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Crise na Tap (companhia nacional portuguesa), um plano de desmantelamento sobre a pele dos trabalhadores.

Crise na Tap (companhia nacional portuguesa), um plano de desmantelamento sobre a pele dos trabalhadores.

Falamos com Carlos Ordaz, trabalhador e membro da comissão de trabalhadores Groundforce do aeroporto de Lisboa.Aos cuidados de Daniele Cofani (operário Alitalia)

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Solidaires (CM)

Antes de tudo agradecemos Carlos pela sua disponibilidade em um momento de grande dificuldade geral, sobretudo para os trabalhadores do setor aéreo. Carlos, de Portugal temos notícias de um plano de reestruturação que afetará a Tap e os trabalhadores, tu podes falar sobre isso?

O Plano de Reestruturação agora apresentado enquadra-se na autorização dada a Portugal pela União Europeia em junho passado para o Estado emprestar à Companhia 1200 milhões de euros. Esta autorização dada em pleno confinamento não se enquadra nos apoios COVID pois a TAP de gestão privada já estava antes da pandemia com graves problemas, falando-se inclusive em insolvencia. Na autorização dada pela comissão europeia em junho esta já exigia que fossem reduzidos postos de trabalhos, aviões e rotas. E assim fez o governo português submetendo-se aos ditames europeus. Portanto hoje o que está em cima da mesa é a suspensão de todas as contratações colectivas no Grupo TAP, a diminuição de 25% dos salários base acima dos 900 euros e um despedimento colectivo de 2000 trabalhadores o que significa um pouco mais de 20% do total.

Esta não é a primeira reestruturação que acontece na Tap, quais foram as passagens anteriores?

De facto, em 1994 houve uma reestruturação com o governo português a ser autorizado pela Comissão Europeia a injectar na moeda da altura cerca de 1450 milhões de euros ao longo de 4 anos, impondo também despedimentos e redução de frota. Foi um processo que preparava a Companhia para a privatização, mais tarde foi assinado um acordo para a Swissair deter 35% do capital que viria a cair pela falência da Companhia suíça. Assinalar ainda que há cinco anos a Companhia foi privatizada, um ano depois há um processo de “reversão da privatização” motivada pela alteração no governo do pais e a aliança de esquerda dai decorrente. O governo fez uma manobra passando 50% do capital para o Estado aparecendo como garante da dívida, contudo esta reversão manteve o controlo do lado do privado. Nestes cinco anos não houve despedimentos, mas sim aumento de frota descontrolado.”

Tu pensas que por trás de tudo isso existe um plano internacional europeu (UE) bem estabelecido?

Sim, claramente. Como disse acima o plano de Reestruturação tem ligação com a autorização aprovada pela Comissão Europeia no passado dia 10 de junho, ai foram exigidas regras para cumprir, nomeadamente: redução de frota e despedimentos. Para além disso esta crise irá acentuar o dominio das grandes companhias especialmente a Lufthansa e Ryanair que dominam metade do tráfego europeu e estão em melhores condições pela dimensão e capacidade finaceira de ganhar mercado na recuperação.
Para a Alitalia estão propondo o “modelo Tap”, com o setor di handling (não somente) terceirizado com participação acionária da casa mãe. O que ocorreu com este modelo para os trabalhadores da Tap terceirizados (Groundforce).
O “modelo TAP” parece-me a liberalização, a precariedade, e a subserviencia aos privados e à União Europeia ficando os trabalhadores como o elo mais fraco. Para além disso é um modelo que cada vez mais se aproxima das low-cost significando isto um serviço de menor qualidade. Como disse o sector de handling da TAP foi privatizado mas a “casa mãe” manteve capital, foi o laboratório para o trabalho precário através de empresas de trabalho temporário e prestadoras de serviço que nem tinham de cumprir a contratação colectiva, resultou que trabalhar por turnos dava ao final do mês pouco mais do que o salário minimo.


Obrigado mais uma vez a Carlos, em nome do grupo operativo da Frente de luta não à auteridade (FLNA), e também dos trabalhadores Alitalia, ti enviamos apoio e solidariedade.

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