
Plenária Global da Rede compartilha informes sobre lutas em curso
Ativistas compartilharam relatos de lutas de resistência às diversas violências contra a classe trabalhadora e planos de mobilização e solidariedade internacionais
No dia 19 de outubro foi realizada a Plenária Virtual Global da Rede Internacional de Solidariedade e Lutas do Trabalho, reunindo representantes de organizações sindicais e movimentos sociais de diversos locais do mundo.
O encontro teve como objetivo compartilhar informações, perspectivas e experiências das lutas locais em diferentes países, com foco especial nas atualizações vindas de ativistas ucranianos, que resistem aos ataques locais e contra a invasão da Rússia há dois anos e meio, e do Brasil, com atualizações sobre as mobilizações contra o G20 no país, previsto para o dia 18 e 19 de novembro.
Devido a dificuldades específicas de cada região, alguns dos ativistas que previstos na programação da plenária não puderam estar presentes para compartilhar seus informes.
Palestina
Este foi o caso do representante do PPSWU, os correios da Palestina, que vive na Cisjordânia. Além do genocídio que se passa em Gaza, outros territórios ocupados sofrem com o cerco, a repressão e a violência militar israelense, dificultando a organização, comunicação e mobilização dos trabalhadores.
Desde 7 de outubro de 2023, mais de 40 mil palestinas e palestinos foram mortos pelo Estado de Israel. Além de Gaza, apenas na Cisjordânia o número de prisões de mulheres ultrapassou 420, no caso de crianças, pelo menos 740 foram presas. Entre os jornalistas, 108 foram detidos neste período, com 58 ainda sob custódia. E pelo menos 40 presos palestinos foram mortos nas prisões, sendo que 38 deles tiveram seus corpos retidos.
Bangladesh
Representantes de Bangladesh, do sindicato National Garment Workers Federation (NGWF), filiado à Rede, não puderam participar da plenária devido a dificuldades de conexão. No entanto, foi relatado que o país vive uma onda de mobilizações importantes lideradas por estudantes e trabalhadores, resultando na queda da primeira-ministra Sheikh Hasina.
No processo de lutas em Bangladesh, ao menos 600 trabalhadores foram mortos e 7 mortos faziam parte do NGWF, conforme informações divulgadas pela filiada.
Venezuela
A representação da Venezuela, país que enfrenta dura situação política e econômica, também não pôde participar devido a problemas de ordem pessoal. Seguimos divulgando e apoiando as lutas locais, com destaque para a mobilização dos petroleiros, do Comitê Nacional de Conflito dos Trabalhadores em Luta e de outras organizações de resistência venezuelanas.
Ucrânia: Impactos da guerra sobre os trabalhadores
Yuri Samoilov, presidente do Sindicato Independente de Mineiros da Ucrânia em Kryvyi Rih, também coordenador da Confederação Local de Sindicatos Livres, relatou a devastação que mais de dois anos de guerra e invasão trouxeram ao país. O conflito contínuo tem imposto pesadas perdas de vidas, com trabalhadores sendo forçados a lutar nas frentes de batalha, e o aumento da inflação e dos impostos sobre os salários, agravando ainda mais a situação. "A terra ucraniana pertence aos ricos, mas quem está no combate para defendê-la são os pobres", afirmou Yuri, destacando o fato de que os oligarcas ucranianos seguem intocados pelas duras políticas fiscais, enquanto os trabalhadores arcam com os maiores sacrifícios. Ele também mencionou a recente libertação de Maksym Butkevych, um ativista de esquerda muito respeitado, como um importante ponto de celebração neste marco de guerra.
A crise da água potável também foi tema de sua intervenção, falando especialmente sobre a região de Krivih Rih, onde os trabalhadores enfrentam desafios crescentes para acessar esse recurso vital. “Há cerca de um mês, os trabalhadores das mineradoras são obrigados a levar sua própria água para o trabalho, pois não há abastecimento nos locais”. Ele relatou que o sindicato local está liderando uma luta para garantir o direito à água potável, denunciando a falta de ação das empresas e exigindo soluções imediatas. Além disso, ele citou que há um esforço de unidade de ação para a conscientização da luta de classes, denunciando que há organizações que recebem apoio financeiro internacional mas que agem pela conciliação no país.
O estudante Pavlo “KortX”, do sindicato Priama Diia, compartilhou as lutas que a nova geração do grupo está enfrentando na Ucrânia, combinando batalhas locais e nacionais. Como ativistas de direitos humanos, eles estão envolvidos em questões como a privatização dos dormitórios estudantis e a falta de moradia para estudantes, especialmente em universidades como a Universidade Técnica de Lviv. Nesse contexto, os estudantes se organizaram, ocuparam espaços de convivência e realizaram assembleias estudantis, apesar das tentativas da administração de reprimir essas ações. Além disso, o movimento busca angariar mais recursos para as universidades, enquanto enfrenta resistências locais e a crescente pressão para a privatização da educação superior.
Em nível nacional, o Priama Diia também combate a tentativa do governo de obrigar todos os estudantes homens a servirem no exército, defendendo que o serviço militar deve ser voluntário. Além disso, o grupo denuncia o não pagamento prometido aos soldados que estão na linha de frente da guerra, uma questão que agrava a precariedade enfrentada por muitos. Inspirados por movimentos internacionais, como o Solidaires da França, e o IP - Iniciativa Operária, da Ucrânia, o Priama Diia segue lutando pelos direitos estudantis e contra a privatização da educação, enquanto busca proteger os estudantes de políticas governamentais opressivas.
Brasil: Mobilizações contra o G20
Outro tema de destaque foi o Brasil, que este ano assumiu a presidência do G20 e será palco da reunião do grupo em novembro.
Herbert Claros, da CSP-Conlutas, informou que diversas organizações sindicais e movimentos sociais do Brasil, incluindo a CUT, MST e CTB, faziam parte de uma articulação de resistência contra a presença do G20 no país.
No entanto, existe uma tentativa do governo Lula de silenciar os protestos, promovendo uma imagem de pacificação ao mundo, o que fez com que alguns movimentos se alinhassem a essas preocupações.
Na contramão, outras organizações independentes, como a CSP-Conlutas e o Jubileu Sul, mantêm a organização de uma contra-cúpula para o mesmo período, a chamada Cúpula dos Povos.
Nesse sentido, foi feito um convite aos que podem estar presentes no país mas também um apelo para que organizações internacionais realizem protestos contra o G20 em suas respectivas embaixadas ou consulados brasileiros no dia 18 de novembro, data de abertura do evento oficial.
A Plenária da Rede demonstrou mais uma vez a força da solidariedade internacional. Essa articulação internacional continua a ser um pilar fundamental na construção de um movimento sindicalista e popular internacional de resistência, capaz de enfrentar os desafios globais que afetam a classe trabalhadora.
Para não perder nenhuma notícia da Rede ou para sempre estar informado sobre as Plenárias Virtuais ou outras atividades online, assine a Newsletter da Rede.