Mesa sobre conjuntura internacional aponta importância do internacionalismo da Rede
Ativistas compartilharam suas realidades e lutas e firmaram compromisso de apoio e coordenação internacional
No segundo dia do Encontro, com o objetivo discutir a conjuntura internacional e as lutas dos trabalhadores em meio aos ataques do capitalismo, aprofundados pela crise desde 2008 e exacerbados durante a pandemia, os participantes destacaram que os governos capitalistas, em sua maioria, têm trabalhado para reduzir os direitos dos trabalhadores, precarizar o emprego, ampliar o trabalho informal, privatizar setores como a água e reprimir a organização sindical e manifestações contra políticas neoliberais.
Um momento de intervenções foi aberto com a contribuição de ativistas e sindicalistas de diversos países:
Chile - Foi lembrado o golpe militar de 1973 e a necessidade de resistência contra políticas capitalistas sob o governo atual. Camilla Ruz Sepúlveda, trabalhadora do setor químico, destacou também a exploração estrangeira no país, explicando sobre uma lei que dá poder à polícia e o saque do lítio no país. “Explorar o lítio no Chile é abrir as portas para as multinacionais estrangeiras, tirando a soberania do povo e autorizando empresas multinacionais para que possam explorar o país”.
Angola - Houve denúncias de repressão e falta de liberdades fundamentais, de organização e sindicais. José Gomes Hata, militante que já foi preso e sequestrado pelo regime angolano, afirmou que "quem luta em Angola deve estar preparado para perder a vida”, e pediu apoio internacional aos presentes e à Rede.
Argentina - Discutiu-se a atuação de governos de frente ampla que, apesar do apoio das direções sindicais, têm aplicado políticas que empobrecem os trabalhadores. Segundo ele relatou, são instituídos planos que deixam nossos trabalhadores mais pobres. “Isso se consegue com colaboração expressa e apoio das centrais sindicais. Em Buenos Aires, 70& das crianças são pobres”, denunciou.
Botsuana - O servidor público Martin Onalenna Gabobake apontou que apesar de não conseguirem conquistar todas as demandas ao movimento operário, fazem o máximo possível. “Tentamos o diálogo nacional, mas somos muito limitados pelas políticas do Ministério do Trabalho e do Interior”.
Brasil - Os participantes destacaram o aprofundamento da crise, a falta de perspectivas de curto e médio prazos e a importância da independência de classe. Joaninha Oliveira, da educação, ressaltou a crise global agravada pela pandemia, criticou Bolsonaro, ressaltou o apoio ao voto crítico em Lula e a política de independência de classe da CSP-Conlutas. Suzete Chaffin, de servidores públicos, defendeu a unificação da classe diante do governo que prioriza a dívida em detrimento dos serviços públicos. Diego Vitello, metroviário, abordou a privatização no Brasil, planejando uma greve unificada e um plebiscito contra a privatização da água em São Paulo, com apoio da CSP-Conlutas.
Reino Unido - A crise econômica após a pandemia e o Brexit levou a mobilizações de trabalhadores contra as políticas de Boris Johnson. “A classe trabalhadora não conseguia comprar pão, leite, manteiga e 20% não podia sustentar as famílias. Posso dizer que a classe trabalhadora está de volta, está lutando”, disse, destacando que mobilizações assim não aconteciam no país há cerca de 40 anos.
Costa Rica - Denunciou-se a repressão policial contra os trabalhadores e a busca por uma confederação sindical independente da burocracia sindical. “Não permitem que nos organizemos, não temos tempo sindical para atender os trabalhadores, fazemos isso fora do horário do trabalho, porque se não for assim, não podemos organizar a classe. Não conseguimos fazer assembleias nos dias do trabalho por repressão. A experiência que vimos aqui, vamos tentar fazer lá”, frisou Obeth Morales Barquero, dirigente do sindicato de trabalhadores da agroindústria no país.
Nesse sentido, o mesmo ocorre no Equador, onde a sindicalização é baixa, especialmente entre jovens e mulheres, e há esforços para fortalecer a organização sindical no campo. Juan Fernandez Rodrigues Escobar, dirigente da categoria de servidores públicos, iniciou a fala identificando o perfil da entidade. “Somos anticapitalistas, fortalecendo a democracia proletária de base”. Segundo Escobar, a situação do sindicalismo no Equador é muito precária. “Apenas 3% de sindicalizados e apenas 1% são mulheres sindicalizadas, e a grande maioria dos trabalhadores está no setor informal”, salientou.
Com uma taxa baixa de jovens e mulheres sindicalizados, representando mais de 50% da massa trabalhadora, o grupo busca fortalecer a organização sindical no país. “Queremos fortalecer a sindicalização no campo, pois são as piores condições, à beira da escravidão”, contou.
Estado Espanhol - Alertou-se para o aumento do feminicídio e a necessidade de lutar por salários dignos. Davi Blanco, dirigente da CGT, fundadora da Rede, alertou para o aumento do feminicídio no país como parte da expressão da extrema direita que vem crescendo na Espanha e preocupa o movimento sindical. “Nós, da CGT, sabemos dos problemas que afetam a classe trabalhadora, mas temos de enfrentar a extrema direita”, afirmou.
EUA - Mencionou-se a resistência dos povos indígenas, o movimento contra a violência policial e a luta contra a extração de minérios. Cooper Bard, do sindicato de engenheiros de operação da Philadelfia, afirmou que “Há disposição da classe trabalhadora em lutar contra os patrões, governos e combater a crise climática”.
França - As mobilizações contra o aumento da idade de aposentadoria foram lembradas, assim como a necessidade de enfrentar a extrema direita e defender os direitos dos migrantes não documentados.
Vila Ramon alertou que a reforma da Previdência na França não é só uma questão de trabalhar mais tempo, mas sim uma forma de obrigar que trabalhadores paguem contribuições aos fundos privados. A profissional da educação Cybele David, também do Solidaires, abordou sobre a importância das lutas populares na França, principalmente contra o racismo, uma vez que aumenta o fluxo de imigrantes nas fronteiras francesas. “É preciso lembrar que sempre há mortes por violência policial nos bairros populares, principalmente de Paris”.
Philipe Degrave, do Emancipación, relatou o processo pelo qual passou o país com as grandes lutas contra o aumento de dois anos para a aposentadoria pública.
Palestina - Os sindicatos independentes enfrentam desafios devido a novas leis e procedimentos, e a situação econômica é difícil devido às medidas punitivas impostas pela ocupação sionista. Nabel Abdallah, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores dos Correios da Palestina, afirmou que "Muitas organizações trabalhistas se desintegraram, não mais capazes de defender os seus membros à luz das demissões arbitrárias e das penalidades que enfrentaram por parte dos empregadores”.
Polônia - Destacou-se a repressão aos sindicatos, a precarização do trabalho e os ataques aos direitos das mulheres. Pawel Nowozycki, sindicalista polonês da IP, falou ainda da organização de um congresso anual de mulheres em que participam associações e sindicatos para criar uma plataforma comum de lutas tanto no mercado como na vida cotidiana.
No Togo, a situação precária da população foi ressaltada, e foi solicitada solidariedade internacional.Boukari Issa abordou a situação precária em que vive o povo de seu país, onde os filhos dos trabalhadores sequer conseguem ir à escola porque os pais estão desempregados em situação totalmente precária.
Issa afirma que vem em busca de solidariedade com seu povo para conseguirem sobreviver. “É uma situação lastimável no Togo. Precisamos de solidariedade”, disse.
Na Ucrânia, a sindicalização está em declínio, com sindicatos burocratizados, e a luta é por questões básicas, como acesso à água.Yuri Petrovich destacou que têm consciência de classe no front, e que “não irão permitir a esses ricos que depois da vitórias voltem a querer escravizar-nos, nós vamos derrotar Putin e nossos oligarcas”.
A enfermeira Oksana Slobodyana denunciou que na Ucrânia os hospitais estão se tornando negócios privados e que há pouca transferência a respeito dos recursos para o setor.
Itália - Enfatizou-se a necessidade de resistência dos trabalhadores diante do aumento da precarização do trabalho. Marcelo Amendola, dirigente da CUB Itália e da Rede, reforçou a necessidade de ampliação da Rede para alargar o trabalho a outras organizações que não conhecem a organização, mas têm afinidade. “Precisamos ter acesso aos jovens, eles têm que saber que lutando eles conquistam seus objetivos. Os trabalhadores precisam ter certeza de que existe uma direção que os levará à vitória”, frisou.
O encontro foi marcado pela solidariedade internacional e pelo compromisso de fortalecer a luta da classe trabalhadora em todo o mundo.