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1º dia de Encontro Internacional traz balanço político e de lutas de 17 países das Américas

1º dia de Encontro Internacional traz balanço político e de lutas de 17 países das Américas

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CSP-Conlutas

Teve início na manhã desta segunda-feira (16) o 1º Encontro da Classe Trabalhadora das Américas, realizado em São Paulo, no Hotel San Raphael.



Seguido ao 3º Congresso Nacional da CSP-Conlutas, este encontro de dois dias, organizado pela Rede Sindical Internacional de Solidariedade e Lutas (RSISL), contou com a presença de lutadores de 17 países, não somente das Américas, mas também da Europa e da África.

A mesa de abertura teve a mediação de Judith Calderón, jornalista do México demitida do diário La Jornada após mobilização em greve, Misael Oliver Jiménez Vera, delegado de base do Sindicato dos Eletricitários do Paraguai, o SintrAnde, e Alexandre Galvão Carvalho, diretor do Andes-SN (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições do Ensino Superior) .

Foram intervenções de diversos países que revelaram situações em comum de ataques vindos de governos neoliberais, do imperialismo e dos patrões. As organizações e os governos que agem como conciliadores de classe e que traíram os movimentos combativos de esquerda também foram apontados nos vários relatos.

Atrelado a todos estes problemas do capitalismo, a maioria dos ativistas destacou as dificuldades que devem ser superadas diante da burocracia sindical que defende os interesses dos governos e dos patrões.

Da Colômbia, o dirigente da Coordenação Sindical de Cartagena, Pedro Londoño ressaltou que esta é uma conjuntura que cria condições de mais violência e opressão. Ele relata que somente neste ano, em seu país, 70 dirigentes foram mortos, ativistas que lutam por terra e direitos humanos. “Neste mês de outubro, oito camponeses foram assassinados pela polícia durante manifestação por direito à terra. O governo diz que vai suspender os policiais que participaram desta operação, mas o problema é que a violência ocorre em meio ao período eleitoral, em que dois setores da burguesia disputam. O da direita, de [Álvaro] Uribe e o de Juan Manoel Santos, que se coloca como progressista mas que em nada se diferencia da direita”.

Em nome do Sitrasep (Sindicato de Trabalhadores do Setor Privado), Jouseth Chaves Rodríguez, secretário de conflitos da entidade, também trouxe a repressão e criminalização das lutas ao debate. Ele fala da perseguição aos que se envolvem na luta sindical e que, segundo ele, as ameaças são constantes. Ele e mais um camarada sindicalista ouviram que “receberiam um tiro na cabeça no primeiro momento em que fossem vistos sozinhos”.

De El Salvador, o secretário geral do Sindicato Nacional em Defesa da Classe Trabalhadora (UNT) e da Coordenação Sindical Salvadorenha (CSS) Erick Alexander Zelaya Ramos, a população depositava esperança no governo da FMLN (Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional), mas que os ataques foram ainda mais duros do que os que ocorreram no período em que estava no poder o partido de direita Arena (Aliança Republicana Nacionalista). “O governo encaminhou a reforma da previdência, privatizando o sistema, como ocorreu no Chile. “Não conseguimos articular luta contra isso, pois o governo controla as principais centrais sindicais do país. Além disso, enfrentamos o aumento do preço do transporte público, a reforma trabalhista, e outros ataques como, por exemplo, no funcionalismo público, com a lei que limita o direito de organização do setor”, listou. Segundo o dirigente, eles estão dedicados a construir uma coordenação sindical e dizem tentar “reproduzir o que a CSP-Conlutas faz no Brasil, com sindicalismo combativo e independente”, concluiu.

Outro informe sobre reorganização sindical chegou pela dirigente da Associação Nacional de Funcionários Públicos, Marcela Olivares. Ela relatou que no Chile ocorre um processo que pouco a pouco avança para uma situação pré-revolucionária, com disposição para a criação de centrais independentes. “No Chile temos a CUT (Central Unitária dos Trabalhadores), que agrupa todas as organizações sindicais no país e que, no entanto, é uma central traidora, que dirige defendendo os interesses políticos do governo e das empresas”, denunciou.

“Não temos muitas alternativas, hoje há frente ampla que as pessoas vêm como alternativa, mas que na verdade é uma copia do Syriza, da Grécia, e do Podemos, da Espanha. Precisamos nos reorganizar por uma democracia operária e democrática, para avançar na unidade com um programa realmente revolucionário”, finalizou.

A militante do movimento popular dos Banhados [alagados] de Assunção, Paraguai, Maria Garcia destacou, em referência ao caráter da CSP-Conlutas enquanto central sindical popular, a importância de associar à luta sindical os movimentos sociais. “Os trabalhadores estão nos lugares sociais. Nós estamos exigindo o direito à terra, moradia e temos na linha de frente mulheres que dão a vida pela luta. Somos mulheres e defendemos nosso território e nossos filhos. Por experiência própria, afirmamos a importância da Rede Internacional, pois é por este canal que fazemos comunicados e denúncias internacionais de violações dos direitos humanos”, defendeu.

Do movimento por moradia filiado à Central, o Luta Popular, Helena Silvestre, que também esteve em visita aos moradores desta região de Assunção, reforçou a necessidade de unir as bandeiras do sindicalismo e do movimento popular. “Enxergar a classe em sua totalidade e não olhar somente um dos diversos aspectos dos trabalhadores, mas compreender a mesma opressão e exploração que se desenvolve de outras maneiras em todas as dimensões de nossas vidas”, ratificou.

A professora e membro da Secretaria Executiva Nacional (SEN) da CSP-Conlutas, Joaninha de Oliveira, também abordou o problema da criminalização, sobretudo em espaços da educação, citando aos ativistas dos outros países o projeto “Escola sem partido”. “É importante entender que nos governos de conciliação de classe a situação da educação pública só piorou, caminhando para a privatização. Ou nos unificamos internacionalmente ou podemos ser derrotados. Devemos seguir como os trabalhadores do Peru, da Argentina, da França”, sugeriu.

Representando também a SEN, o dirigente Paulo Barela frisou que não temos apenas que, em nível internacional, superar a burguesia e seus ataques, mas também as organizações que traíram os trabalhadores. “A CSP-Conlutas tem como um dos princípios básicos o internacionalismo. Por isso fazemos parte e construímos a Rede Internacional [RSISL] e incentivamos e apoiamos s organizações mais recentes como a CCT do Paraguai, como o movimento que se inicia agora no Chile, e as fundadoras CGT espanhola, e a Solidaires na França”. Para ele, este enfrentamento passa por fortalecer uma organização com um corte revolucionário que avance na consciência dos trabalhadores para superar o capitalismo”, reforçou.

Do Sindicato de Mineiros (da mina Mas Errazuriz nº 3) do Chile, a trabalhadora Maria Rivera, foi uma das últimas a contribuir com os informes internacionais. Ela salientou a importância do protagonismo dos trabalhadores na construção de outra sociedade. “A solução está em nossas mãos. A única resposta e alternativa que podemos dar à classe trabalhadora é a tomada do poder aqui e no mundo. Não importa o sindicato ou partido, tomemos as bandeira pela libertação dos trabalhadores”, convocou.

Amanhã (17), no último dia do Encontro, teremos uma mesa com o tema “Trump e América Latina”. Ronan Gillespie, dos Estados Unidos, é membro do Labor Rising Against Trump (Levante dos Trabalhadores contra Trump) e ressaltou em sua fala que o governo de Donald Trump provocou um ascenso dos movimentos que tomaram as ruas, com o envolvimento de comunidades imigrantes e de outras minorias, sobretudo.

“Um dos exemplos de luta é o movimento ‘Standing Rock’, ação popular contra as investidas de uma companhia de petróleo que visava construir um gasoduto em território nativo. Os indígenas montaram uma forte ocupação por seis meses, enfrentando muito frio e repressão. Há mobilizações contra a perseguição aos muçulmanos, contra os neonazistas. Para nós, este Encontro de hoje é um momento de educação e formação política. Estamos muito felizes com a oportunidade, pois isso não existe nos Estados Unidos”, relatou.

Herbert Claros, do Setorial Internacional, sintetizou o Encontro ao citar os camaradas dos Estados Unidos, dizendo que “nada nos difere da classe trabalhadora norte-americana ou do Canadá, que sofrem com ajustes fiscais, a xenofobia, o preconceito, o enfrentamento físico com a policia. Nossa luta é uma só. Este é o lema que fundou nossa Rede e que faz mais sentido nesse encontro das Américas”.

Alexandre Galvão, do Andes-SN, destacou que este momento mostra a disposição da classe trabalhadora, “sobretudo a organizada pela CSP-Conlutas, que nasceu há 11 anos com uma necessidade de setores combativos da classe de organizar os trabalhadores e ter ferramentas de luta pra enfrentar setores atrelados à burguesia brasileira”. Ao plenário, ele pontuou que a atividade tem como objetivo impulsionar o trabalho da Rede Internacional nas Américas, de fortalecer o internacionalismo da Central aqui no continente americano”.
 

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