
Bombardeio nuclear: o elo perdido entre Hiroshima-Nagasaki e Congo
CSP-Conlutas
No próximo sábado, 6 de Agosto, completa-se 77 anos do bombardeio norte-americano, em resposta ao ataque à Pearl Harbor, sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki.
Estes dois ataques marcariam não somente a memória coletiva do povo japonês, como do mundo inteiro. As bombas de material nuclear, parte sombria da Segunda Guerra Mundial, revelaram o horror do poder de destruição atômica das potências mundiais e o ataque se tornou uma das maiores tragédias da história da humanidade.
O que pouco se sabe, no entanto, é sobre como os preparativos para o ataque às cidades japonesas resultaram em outras milhares de vítimas civis no Congo, mais precisamente na região da mina de Shinkolobwe, oficialmente desativada em 1960.
Foi desse local que os Estados Unidos retiraram o urânio utilizado nas bombas que mataram mais de 240 mil civis nas cidades japonesas. Nessa mina, trabalharam congoleses que nem mesmo tinham conhecimento sobre o tipo de material que manipulavam. As consequências desse trabalho perpetuaram por gerações, que ainda sofrem com problemas congênitos decorrentes do contato com a radiação do material.
Além disso, a mina poluiu toda a área, afetando o solo e os mananciais de água, despejando por meses seguidos até 20% do urânio em uma região onde a chuva é abundante, com construções de mineiros feitas com materiais radioativos.
Esse elo macabro entre os dois países é pouco conhecido e a razão para isso pode ser compreendida quando se analisa o contexto político e histórico, conforme nos contou em entrevista o ativista e acadêmico congolês membro da CCSSA (sigla em inglês para Sociedade Civil Congolesa da África), Yves Salankang. “Para os EUA e seus aliados, essas informações eram muito importantes, pois não queriam que seus oponentes soubessem da origem desse minério importante e de tão alta qualidade, de modo a impedir que também tivessem acesso ao material”.
“É por isso que os japoneses nem sabem sobre a origem do urânio que causou tal desastre em seu país. Mas, como membro da CCSSA, estamos muito dispostos a estabelecer contato com qualquer organização japonesa interessada nisso, e a trabalhar em conjunto para o reconhecimento da verdadeira história desse desastre, porque ambos os países são vítimas do Projeto Manhattan”, expõe Salankang.
Anualmente, a organização da qual faz parte o ativista congolês realiza um debate público em forma de protesto, que relembra o evento histórico e traz à tona o elo entre duas populações que sofreram as duras consequências deste ataque nuclear. Neste ano, com o tema "Dignidade humana além do progresso técnico-científico", o evento ocorre na cidade do Cabo, na Gardens Commercial High School, no dia 6 de Agosto.
Salankang conta que o evento tem como principais objetivos rememorar as vítimas dos bombardeios atômicos de Hiroshima e Nagasaki de 1945 e as não documentadas e esquecidas da radiação de urânio no Congo, denunciar o elo perdido entre as vítimas de Hiroshima-Nagasaki e as de Shinkolobwe, criar consciência sobre a narrativa correta e justa da Segunda Guerra Mundial, incluindo todas as vítimas das armas nucleares e da radiação nuclear, e buscar apoio e solidariedade para o reconhecimento da Shinkolobwe no discurso histórico mundial.
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